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O labirinto do caminho do meio

  • 13 de out. de 2020
  • 4 min de leitura

Há muitos anos havia uma vila onde nasceu uma pequena garota, de nome Helena. Desde muito pequena ela era doce, gentil e pelos sábios do local foi prometida como a próxima líder, pessoa dotada de extremas virtudes.

Assim que fez vinte anos, logo foi incentivada pelos sábios da vila a completar a travessia de um famoso – e perigoso – labirinto que havia nas redondezas. Sempre empoderada de suas capacidades, Helena foi conhecer o local, já determinada a completar a travessia. Já que desde seu nascimento havia grandes promessas sobre ela, Helena sempre recebeu o melhor tratamento de todos os moradores, por isso era de alguma maneira um pouco mimada e cheia de si.

Chegando ao labirinto, era possível ver, em uma pequena rachadura na montanha, uma pequenina entrada. Na entrada dizia: Labirinto da Síntese. Nessa entrada havia um homem cego, que nunca saía de lá. Helena foi se aproximando e lhe dirigiu a palavra.

- Bom dia, senhor! Como faço para entrar nesse labirinto?

- Para entrar, basta passar por essa passagem. Mas cuidado, há muitos anos ninguém consegue completar a travessia e metade infelizmente é incapaz de voltar, por isso acaba perecendo em seu interior.

- Pois te digo que fique tranquilo, os sábios de minha vila me pediram que viesse tentar a travessia. Qual é a maior dificuldade?

- Hum. Este é o labirinto da síntese. Só é capaz de atravessá-lo aquele que é capaz de seguir o caminho do meio, um caminho entre o bem e o mal.

- Acredito que sou capaz de fazer isso, afinal, a minha vida inteira fui criada com o que há de melhor na filosofia, sempre imersa nas virtudes...

- Sinto dizer, mas você ainda é totalmente incapaz de completar esse labirinto – falou o homem enquanto tocava a testa da jovem. Veja, você é uma pessoa realmente pura, dotada de muita inocência e sempre conviveu em um ambiente muito virtuoso. No entanto, devo dizer, isso não te torna capaz de realizar a síntese. A fim de que possamos de fato seguir o caminho do meio, é necessário saber onde se encontram os extremos.

- Mas eu sei que tudo o que não é virtude é ruim, apenas a virtude é boa. Nisso já começa uma síntese. Afinal, qual a importância do caminho do meio? Me parece que o extremo positivo talvez seja perfeito.

- Você não está errada em seu raciocínio, mas tampouco posso dizer que está certa. Na verdade, se tens a vontade de viver em isolamento ou se não se importa em não ser compreendida, é perfeitamente possível que você fique no extremo da bondade e aguarde a humanidade chegar aí. No entanto, se quer ser compreendida e compreender, auxiliar no caminho, é necessário encontrar a harmonia entre os caminhos. Jesus já nos disse uma vez: “sede prudentes como as serpentes e mansos como as pombas”. A inocência da pomba é sim importante – e muito, mas é necessário a astúcia das serpentes se quisermos de fato compreender esse mundo. Aí então não falo mais de sabedoria, mas de sapiência. Ambas são necessárias. Esse labirinto também é chamado Labirinto do Governante, porque só um verdadeiro governante pode sair daqui. Uma pessoa dotava de todas as qualidades em seu lado mais bondoso provavelmente não conseguiria jamais governar o mundo em que estamos, por isso se queremos de fato ajudar as pessoas nos é necessário conhecer o outro extremo.

- E como vou conhecer? Diz que devo me inclinar às más práticas? Do que fala?

- Não. Não é necessário de fato praticar, mas conhecer. Você mesma vai entender quando começar a conhecer. É abrir a oportunidade para entender aqueles que fazem aquilo que você jamais faria. Podes inclusive meditar sobre isso. Mas aí vem um problema: sois muito pura e a sua meditação provavelmente não vai lhe trazer imagens sobre essas torpezas. Em verdade é uma forma muito pessoal a maneira como conhecemos, como buscadores, não como praticantes, esses lados mais sombrios. Mas é necessário para fazer a síntese.

- Entendo. De alguma forma me sinto grata e vejo sentido em suas palavras. O mundo, realmente, levando em consideração o geral, se encontra em um patamar ainda muito diferente. Como eu poderia acreditar que governaria essas pessoas? De que forma, se sequer as conheço? Meu mundo sempre foi diferente do mundo. Hoje eu vejo sentido... Muito grata, senhor! Voltarei em alguns anos... Quem sabe algum dia não me considere apta a tentar a travessia do labirinto?

- Vá em paz. Tenho certeza que algum dia lhe será possível. Veja bem... O ser humano é invejado até por alguns Deuses, porque apenas ele é dotado dessa possibilidade de síntese. O ser humano é o único capaz de trafegar entre os mais variados níveis. É claro que isso é ao mesmo tempo uma graça e uma maldição, porque nos faz estar em um nível mais baixo ou mais elevado. Faz parte do nosso livre arbítrio. De toda forma, boa viagem de volta.

A jovem Helena logo pegou seu caminho de volta à vila, já decidida a seguir viagem para outras vilas, onde ninguém saberia quem ela é de fato, por isso ela poderia ver com mais clareza o mundo de outras pessoas. De resto ela não sabia exatamente como seguiria o caminho, mas já estava claro que ela tinha encontrado um caminho a seguir – e seria longo.

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