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É preciso dar valor

  • 25 de ago. de 2020
  • 4 min de leitura

Certa vez, em uma sala de aula do ensino médio, um professor pediu aos alunos que contassem um pouco como era sua vida em casa. Ele pediu às pessoas que descrevessem como era sua rotina diária. Robson foi quem deu o pontapé.

- Moro em uma casa que não fica nem perto, nem longe daqui. Moramos eu e meus pais, com quem tenho uma relação nem fria, nem terna. Tenho comida sempre que quero, mas não posso viajar por falta de dinheiro. Não nos falta dinheiro para nada do básico, até consigo tomar sorvetes e passear no shopping, mas grandes coisas infelizmente não consigo. Meus pais são legais. Meus vizinhos são normais. Acordo, escovo os dentes, tomo café e venho pra aula. Chego em casa, almoço, durmo, jogo alguma coisa, faço as lições e durmo novamente.

Todos prestaram muita atenção ao que foi dito, e logo em seguida foi a vez de Fábio, que muito animado começou a falar.

- Moro em um lugar onde aprendo diariamente. Moro com meu avô, que infelizmente está doente, mas que me ensina muito sobre a vida. Meus vizinhos são pessoas de enorme coração. Minha casa é muito boa, pois tudo é de fácil alcance e por isso consigo fazer as coisas bem rápido. Lá eu tenho a oportunidade de cozinhar, por isso sou muito bom com alimentos. Eu acordo e já preparo algumas coisas, venho pra escola, na volta pra casa já passo no varejão, onde o Juca me atende muito bem. Cozinho o almoço para mim e meu avô, depois sigo para o centro da cidade, onde aprendo sobre as pessoas, como elas se portam e o que desejam. Volto pra casa a noite e treino minha atenção com um jogo antes de dormir.

Assim todos falaram e logo a aula acabou. Robson ficou maravilhado com a vida de Fábio e praticamente se convidou para visita-lo final de semana. Fábio, animado, não hesitou em concordar, dizendo: “Você vai adorar, lá tem muita coisa pra fazer!”

Chegou sábado, Robson estava muito animado já que Fábio era, com toda a certeza, uma das melhores pessoas que ele conhecia. Animado, justo, amoroso e sincero; essas eram algumas de suas qualidades.

Logo que chegou à porta da casa de Fábio, Robson se assustou ao ouvir um dos vizinhos dizer ao outro: “Ele vai na casa daquele velho rabugento”. Era um casebre, com 4 cômodos, uma pequena sala, uma cozinha menor ainda, um quarto e um banheiro. No quarto haviam duas camas, uma para Fábio e outra para o avô acamado. Assim que Robson entrou, já ouviu o idoso gritar: “Fábio, anda logo com minha sopa”. A sopa já estava pronta, o garoto foi levar o prato, enquanto Robson o esperava na sala. Assim que Fábio chegou, Robson não aguentou a disparou a falar.

- Fábio, estou assustado... Você contou sobre seu dia de uma forma tão diferente de tudo o que estou vendo... Falou que seus vizinhos tinham grande coração, mas logo que cheguei chamaram seu avô de velho rabugento. Disse ainda que seu avô lhe ensinava muito sobre a vida, tudo o que vi até agora reforça que seus vizinhos estão certos. Estou confuso!

Fábio, com um olhar fixo, foi abrindo um sorriso no rosto e não hesitou em responder o amigo.

- Veja, Robson... Eu não menti em nada do que falei, nem uma coisa sequer. Meus vizinhos realmente não gostam nada do meu avô, no entanto sempre que nos falta alguma coisa eles são as pessoas que nos socorrem. Devo lembrar-me deles pelas palavras, às vezes cruéis, ou pelas atitudes, sempre generosas? Além disso, meu avô infelizmente não teve uma vida fácil e sempre foi grosseiro, rabugento mesmo... Observo o quanto as pessoas não gostam dele e o quanto seu humor prejudica a própria saúde. Ele me ensina muito sobre a vida, principalmente sobre como não fazer, o que não deixa de ser um ensinamento também. Antes que pergunte, sou balconista de uma pequena boutique no centro da cidade, lá é onde consigo aprender um pouco sobre as pessoas, como se comportam quando gostam de algo, como gostam de ser comunicadas, etc. Tenho uma vida com muitas dificuldades e já sofri muito com isso, mas um dia encontrei uma pessoa, um senhor. Ele bateu aqui em casa pedindo alimento; eu não tinha muito, mas dei a ele algumas frutas e leite. Naquele dia ele mudou minha vida e me alimentou muito mais do que eu a ele. Ele me disse poucas coisas, mas que eu guardo muito profundamente até hoje. Essas foram suas palavras:

“Existem pessoas com vários tipos de vida no mundo, há pessoas que têm tudo o que o mundo pode dar, mas que ainda assim são infelizes. A felicidade não é deste mundo, porque ela não pertence à matéria. A felicidade está em como nós vivemos a matéria, na forma como lidamos com tudo. Em cada pedaço de detalhe, cada pedacinho, existe uma grande lição. Retirar de tudo a lição é o nosso maior ensinamento e isso é felicidade. Mesmo nos momentos de pior dor, existe ali um ensinamento. Ressignificar a vida, deixar de passar por tudo como se fosse nada e começar a compreender os benefícios que as coisas podem nos proporcionar é uma necessidade. Não se trata de viver uma ilusão, mas se estivermos de fato na busca da felicidade, conseguiremos entender o pequeno e sutil, mas profundo, ato de amor que reside em cada detalhe”.

Robson ficou cabisbaixo e pensativo... Refletiu por alguns minutos, mas decidiu que precisava de mais tempo para processar aquilo, por isso pediu desculpas e disse a Fábio que precisava ir. O garoto compreendeu a decisão do amigo, mas lhe fez uma última pergunta.

- Mas, me diga, para onde você vai?

- Vou para uma casa que fica muito perto de um centro esportivo, onde às vezes posso correr e observar as árvores que lá existem. Eu moro com meus pais, que me amam muito e praticamente dão a vida trabalhando para que eu possa ter as coisas que tenho. Lá não me falta absolutamente nada do que é necessário. Minha vizinhança é maravilhosa, cresci brincando na rua com as diversas crianças que moram lá. Durante o dia tenho tempo de sobra, o que me proporciona várias oportunidades para criar e crescer.

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1 комментарий


Неизвестный пользователь
25 авг. 2020 г.

O texto contextualiza bem a realidade: o que é supérfluo pra alguém, pode ser de extrema necessidade para outro. Ainda podemos ver assim: um antigo adágio árabe - "É melhor andar descalço do que não ter o pé para calçar o chinelo"

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