A livre escolha
- 29 de dez. de 2020
- 3 min de leitura
Há muitos anos atrás havia um mosteiro de uma ordem perdida de monges cristãos onde se exercitava a fé e a filosofia de maneiras muito peculiares para os dias de hoje. Havia uma profundidade no estudo da filosofia dos antigos mestres e uma prática sistêmica de apoio/suporte energético para o globo.
Lá moravam cerca de trezentas pessoas, entre homens e mulheres, sendo que não haviam cargos específicos para homens e cargos específicos para mulheres – todos tinham como crescimento hierárquico os mesmos objetivos.
Certa vez, caminhando por um extenso jardim, cuja variedade de plantas frutíferas e não frutíferas era tanta que esgotaria esse conto sem que pudéssemos descrever todas, estava uma antiga monja, de título verdadeiro desconhecido, mas chamada por todos de monsenhora. Ao caminhar, ela avistou um neófito que estava sentado em um banco, fitando perdidamente a paisagem. Rapidamente ela se sentou ao seu lado e ocorreu um diálogo mais ou menos assim:
- Vejo que estás perdido em pensamentos! Isso é muito bom... Talvez eu possa servi-lo em algo.
- Monsenhora! Sim... Estou a refletir. Treinamos aqui para auxiliar no equilíbrio energético, aprendemos filosofia, artes antigas, mas a generalidade dos homens sequer reconhece nossa função ou mesmo está ciente de nossa existência. Continuam causando guerras, continuam semeando o ódio...
- Ah, sim! – respondeu com um sorriso a monja. Veja, isso não é tão complicado de entender, mas talvez não seja tão simples de explicar. Muito do que precisa ser compreendido antes de entender a complexidade dessas relações reside na Ordem e também na pluralidade de existências.
- Ordem... Sim, entendo a necessidade da Ordem, mas a ingratidão/desconhecimento dos homens pelo que fazemos por eles é algo que me afeta muito negativamente...
- Ingratidão... Desconhecimento... Interessante, quer dizer que você quer que eles sejam gratos e também que lhe reconheçam – a você ou à ordem. Sabe, somos seres especiais. Não somente nós, desse mosteiro, mas toda a raça humana. Nós fomos agraciados com algo chamado livre arbítrio, o que nos permite agir além do instinto.
- Talvez sim... Talvez eu espere um pouco de gratidão. Agora, agir além do instinto? Mas no que exatamente isso tem a ver com gratidão?
- Veja... Olhe para o céu. Consegue ver o Sol?
- Perfeitamente.

- O Sol é um astro rei, é quem permite a vida em todo esse planeta. Sem Sol, sem vida. Alguma vez você já viu o Sol dizer: vou brilhar para você, não para você. Vou ajudar você, não você? Ou vejamos a natureza, tão sofrida, tão atacada pela humanidade, já viu a natureza dizer: vou parar o ciclo de água para você, vou me vingar de você?
- Não senhora.
- É porque a natureza funciona sob uma Ordem. Tudo o que acontece com o nosso mundo é reflexo do que o homem causa nele, nada é uma simples “vingança” da natureza. A natureza não tem esse pensamento doente que possuímos. Você está certo, de fato seria melhor se fossem gratos e se nos reconhecessem, mas será que isso deve ser pré-requisito para realizarmos nossa missão? Se você possui algo pelo qual acredita que deve lutar, se você acredita que algo pode de fato melhorar a sua vida e de outras pessoas, vai abandonar isso apenas porque os outros não lhe direcionaram emoções? Você não deveria, por si mesmo, se satisfazer com aquilo que escolheu? Ou não gosta tanto assim daqui?
- Claro que gosto! Adoro esse lugar! São muitas informações que me transmitiu, mas tudo faz sentido. Estou criando expectativas sob outras pessoas e deixando que isso dite o rumo daquilo que vou fazer. Eu deveria fazer por mim, porque é meu dever, não pelo outro. Muito obrigado monsenhora!
- Disponha sempre. – disse a monja com um sorriso, enquanto seu corpo desvanecia no jardim.
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